Bolsonaro e coronavírus conduzem Brasil à maior recessão da história

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Se as projeções do Banco Mundial forem confirmadas, PIB cairá 5%, a maior queda que o País enfrenta em 120 anos

A nefasta combinação entre as medidas ultraliberais do governo Jair Bolsonaro e os impactos do novo coronavírus no País devem levar a economia brasileira a encolher 5% neste ano. É o que aponta um relatório do Banco Mundial divulgado neste domingo (12). Se suas projeções forem confirmadas, será a maior recessão que o Brasil vai enfrentar em 120 anos.

Segundo estatísticas históricas do IBGE, não há registro de uma queda tão grande da atividade desde 1901. Até hoje, o maior tombo na economia ocorreu em 1990, quando houve retração de 4,35%, logo após o Plano Collor I e o confisco do dinheiro dos brasileiros. A segunda maior queda já registrada foi em 1981, sob a ditadura militar (1964-1985), quando o PIB caiu 4,25% na esteira da crise da dívida externa brasileira.

No conjunto da América Latina, o PIB deve ter uma contração de 4,6% em 2020. Segundo o economista-chefe do Banco Mundial para a região, Martin Rama, a pandemia impôs um “choque triplo” às economias latino-americanas. O primeiro deles ocorreu na demanda: famílias comprando menos bens e serviços, além de grandes países, como a China, demandando menos commodities.

O segundo teve repercussões financeiras, com uma fuga de capitais estrangeiros maior até do que o observado na crise de 2008 e 2009. O último choque é de oferta, com as pessoas impedidas de sair para trabalhar.

Os dados fazem parte de um relatório semestral do escritório do economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe, intitulado “A economia nos tempos da Covid-19”. Confome o documento, o forte choque sofrido pelas economias exige respostas de políticas em diversas frentes: para apoiar os mais vulneráveis, evitar uma crise financeira e proteger os empregos.

A instituição propõe que, para ajudar os vulneráveis a enfrentar a perda de renda motivada pelo isolamento social, os programas atuais de proteção e assistência social “devem ser rapidamente ampliados e ter sua cobertura estendida”. O relatório recomenda ainda apoio às instituições do setor financeiro e às principais fontes de emprego.

“Precisamos ajudar as pessoas a enfrentar esses enormes desafios e garantir que os mercados financeiros e os empregadores sobrevivam à tempestade” afirma o vice-presidente interino do Banco Mundial para a região, Humberto López. “É preciso limitar os danos e lançar as bases para a recuperação o mais rapidamente possível.”

Ao fazer suas projeções, o próprio Banco Mundial reconhece que as circunstâncias econômicas estão mudando diariamente. A análise tomou como base informações dos países disponíveis até 10 de abril de 2020.

Entre os grandes países da América Latina, o Brasil só não deve ter desempenho pior em 2020 do que México (-6,0%), Equador (-6,0%) e Argentina (-5,2%). Já os países do Caribe sofrerão um baque devido aos impactos da pandemia sobre o turismo, fonte importante de renda nesses locais.

A recuperação no Brasil também deve ser mais lenta do que na média da região. O Banco Mundial espera avanço do PIB brasileiro de 1,5% em 2021 e de 2,3% em 2022. Para a América Latina e Caribe, a alta esperada é de 2,6% tanto em 2021 quanto em 2022.

Na avaliação do Banco Mundial, a pandemia contribui para um grande choque do lado da oferta. A demanda da China e de países desenvolvidos deve cair drasticamente, afetando os exportadores de commodities da América do Sul e os exportadores de serviços e bens manufaturados da América Central e Caribe.

Agravantes

Muitos países da região estão enfrentando a crise com um espaço fiscal limitado. O Banco Mundial alerta que níveis mais elevados de informalidade no mercado de trabalho tornam mais difícil que os sistemas de proteção social atinjam todas as famílias. A proteção das fontes de emprego também é mais incerta.

“Muitas famílias vivem ‘da mão para a boca’ e não dispõem de recursos para suportar os bloqueios e quarentenas necessários para conter a propagação da pandemia. Muitos também dependem de remessas internacionais, que estão em colapso”, diz a instituição, que defende mais programas de assistência social.

“Ao mesmo tempo, os governos terão que arcar com grande parte do prejuízo. Socializar esse prejuízo pode exigir a aquisição de participação em instituições do setor financeiro e empregadores estratégicos por meio de recapitalização. Esse apoio será essencial para preservar os empregos e possibilitar a recuperação”, afirma o relatório.

Para o Banco Mundial, um risco de uma crise financeira não pode ser totalmente descartado, dada a magnitude do choque. O organismo ressalta que a América Latina assiste a uma saída de investimentos externos em portfólio muito maior do que na época da crise global de 2007-09. “No nível doméstico, muitos devedores não serão capazes de cumprir suas obrigações ou solicitar renegociações – ou simplesmente ficarão inadimplentes”, diz o documento.

“Os governos da América Latina e do Caribe enfrentam o enorme desafio de proteger vidas e ao mesmo tempo limitar o impacto das consequências econômicas”, diz o economista-chefe do Banco Mundial para a região da América Latina e Caribe, Martin Rama. “Isso exigirá políticas coerentes e direcionadas em uma escala raramente vista antes.”

O Banco Mundial informou ainda em seu relatório que distribuirá até US$ 160 bilhões em apoio financeiro nos próximos 15 meses para ajudar os países a proteger os pobres e vulneráveis, apoiar as empresas e fortalecer o processo de recuperação econômica.

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