Tecnologia e emprego: da revolução industrial ao porto sem papel

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Desde a Revolução Industrial, ainda no século XVIII, que os industriais com seus engenheiros e cientistas buscam otimizar processos no intuito de incrementar a produção através de inovações por meio de máquinas e rotinas de trabalho.

Sabemos que a tecnologia está aí pra isso mesmo e que este é um caminho sem volta. Porém é dever do trabalhador estar consciente de que, até hoje, não existiu avanço tecnológico nos processos de produção que não implicasse em redução dos postos de trabalho ou precarização nas rotinas funcionais para os trabalhadores. Este pensamento me remete a célebre frase do economista Walter Block (autor de Defendendo o Indefensável – 1976) que diz que “A fábrica do futuro terá, apenas dois operários: Um homem e um cachorro. Função do Homem: alimentar o cachorro. Função do cachorro: não deixar o homem tocar nas máquinas…”

Lembro-me muito bem do fenômeno de modernização dos bancos, da década de 90 onde os banqueiros investiram milhões em tecnologia alegando proporcionar maior segurança e conforto aos seus usuários quando na verdade o objetivo era evitar ao máximo que o usuário fosse atendido diretamente nas agências… O que ocorreu foi redução dos postos de trabalho. E nosso atendimento hoje é, em grande parte, feito por máquinas, internet, etc…

Agora estamos na iminência de um novo avanço tecnológico bombástico. A Secretaria Especial de Portos, com intuito de otimizar os processos logísticos de importação e exportação nos portos do Brasil está desenvolvendo o projeto Porto Sem Papel, com a promessa de tornar os nossos portos mais competitivos. Nesse projeto várias funções que hoje são desenvolvidas por trabalhadores passarão a ser executados por sistemas informatizados. Estes novos processos serão implementados desde a parte documental, onde certamente haverá redução da atual burocracia, até a parte de verificação de carga, reduzindo ao máximo a intervenção humana nos processos.

Considero louvável a preocupação, mas todos nós sabemos que o principal problema da competitividade de nossos portos é a logística intermodal. O que precisamos com urgência é de investimentos em estradas, ferrovias, hidrovias e na melhoria da infra-estrutura dos portos. Isto sim nos dará vantagem competitiva. Sabemos que já existem investimentos neste sentido, haja vista as expansões do nosso Porto do Pecém, mas estes investimentos estão chegando depois de anos de estagnação do setor. É preciso muito mais do que isso. É preciso combater os gargalos existentes antes da chegada das mercadorias nos portos, do contrário, nada feito,

A função do sindicalista neste contexto é de primordial importância na defesa dos trabalhadores e dos seus postos de trabalhos. Não queremos e nem podemos refrear o instinto natural do ser humano de evoluir, de criar, de inovar ou melhorar o que já existe. Mas não podemos esmorecer na nossa missão de buscar uma solução negociada que garanta que as inovações não acarretem desemprego ou que encaminhem os trabalhadores a postos de trabalho aquém de suas capacidades. É dever do sindicato estar nas bases e nas empresas buscando garantias de qualificação profissional visando, quando necessário, alocar os trabalhadores dos segmentos onde as inovações tecnológicas estão avançando em funções nobres dentro do novo contexto operacional. A velha máxima de crescer junto com a empresa.

O tema é riquíssimo e vasto… Sugere debates intermináveis e, certamente aparecerão defensores vorazes dos ditos projetos de modernização. Porém, mais do que de tomar uma posição, incito a todas e todos a uma reflexão sobre a humanização das relações de trabalho e da função social do emprego e da garantia de condições adequadas de trabalho e renda.

Entendemos a importância da modernização da estrutura portuária e queremos todos os nossos portos competitivos, com ou sem papel. Mas antes de tudo queremos uma forte política de geração e manutenção de empregos. E empregos de qualidade!

Rogerio Ribeiro é portuário e diretor do MOVA-SE

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