O pesadelo do assédio moral no trabalho

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Durante séculos os trabalhadores vêm lutando por condições dignas. No final do século XVIII, jovens e crianças trabalhavam até 14 horas por dia. Muitos deram a vida para garantir “oito horas de trabalho, oito horas de lazer e oito horas de sono”. A redução e a regulamentação da jornada, além de salários indiretos, auxílio-desemprego, cobertura previdenciária e outros direitos foram duramente conseguidos. É triste, porém, perceber a tendência de perda destas conquistas.


No Brasil, os processos por assédio moral estão se multiplicando na Justiça. Matéria publicada na revista Carta Capital expõe dados alarmantes. Só na Bahia, foram 981 casos de assédio em 2010, contra apenas um em 2001. A pressão pela produtividade está levando os trabalhadores a se submeterem a todo tipo de coerção com medo de perder o emprego. A Justiça do Trabalho está sensibilizada e já está dando ganho de causa a trabalhadores ou familiares que se queixam de depressão, pressão alta, síndrome de pânico e até suicídio.


Usando o discurso do “trabalho em equipe” e trocando o termo “empregado” por “colaborador”, o capital tenta escamotear o suplício dos cidadãos para cumprimento de metas. Nas denúncias, os funcionários falam de humilhações, xingamentos, preconceito racial e limitação de idas ao banheiro. Os casos impressionam. Uma multinacional dava troféus “tartaruga” e “lanterna” aos piores empregados. Outra os colocava de castigo, de frente para a parede. Uma terceira empresa escreveu no contracheque a frase “não desanime, pois até um pé na bunda te empurra pra frente”.


Nos bancos, setor de lucros bilionários, trabalhadores foram espionados ao pelicença médica. Um dos maiores bancos do mundo foi multado em R$ 67,5 milhões porque pôs detetives disfarçados de entregadores de flores ou pesquisadores, revirando até o lixo das casas dos empregados para confirmar os motivos do afastamento. Segundo pesquisa da Universidade de Brasília, os bancários acumulam uma elevada taxa de suicídio por conta da pressão patronal e ameaça de demissão. Entre os bancários, a substituição do homem por máquinas automáticas ceifou milhares de vagas. Mas em outros setores ocorre o mesmo. Entre 1978 e 1980, a Volkswagen tinha 40 mil operários na fábrica de São Bernardo. Hoje são 13 mil, produzindo cada vez mais.


Estaremos discutindo na Câmara a precarização e o assédio no trabalho bancário e expandiremos este debate, fiscalizando outras categorias. A lógica de trabalhar para viver não pode ser substituída pela de viver para trabalhar.


Acrísio Sena

opiniao@opovo.com.br

Vereador do PT em Fortaleza


Fonte: Jornal O Povo

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