O senhor Jair Bolsonaro, ao contrário dos demais chefes de estado, está fazendo tudo para sabotar as medidas de proteção social em nome de uma suposta defesa da economia e dos empregos.
O temor é que o número de mortos, caso as medidas de distanciamento social não sejam respeitadas, supere o da “gripe espanhola” (1918-1920), maior pandemia do século XX, que começou nos EUA e vitimou cerca de 50 milhões de pessoas no planeta, sendo em torno de 35 mil no Brasil, inclusive o presidente Rodrigues Alves que, eleito para um segundo mandato (1918), não chegou a tomar posse (1919).
O número total de mortos e infectados, por Covid 19, tem avançado e revelado o quadro dramático por que passam países ricos como EUA, Espanha e Itália, onde líderes conservadores, como Donald Trump, que fez pouco caso da pandemia, teve que encarar a dura realidade de enterrar, até o momento, mais 40 mil norte-americanos, sabendo que esses números vão crescer nas próximas semanas. Até os ultraliberais foram obrigados a reconhecer que, mesmo diante de previsões da maior recessão da história, seria necessário suspender as atividades econômicas não essenciais para proteger vidas, através de medidas intervencionistas do estado que lembram muito as teses de Keynes.
O quadro revela o fracasso do neoliberalismo, a ideia de estado mínimo foi para o ralo, pelo menos por enquanto. A Europa e, principalmente, os EUA perderão ainda mais força na economia mundial, fato que coloca um cenário de absoluta incerteza para o período posterior a crise. Por outro lado, um exemplo de sucesso é o da China que, embora sofra os efeitos da recessão e da própria pandemia, agiu rápido, tomou as medidas sanitárias adequadas, conseguiu conter o vírus e hoje é referência na produção de equipamentos hospitalares e de solidariedade internacional contra a doença.
Assim, os principais líderes mundiais resolveram seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde, e da comunidade científica, e adotaram medidas de distanciamento social para evitar que a doença se espalhe numa velocidade capaz de levar o sistema hospitalar ao colapso.
Entretanto, as pesquisas comprovam que os números da tragédia são muito maiores, dado que não existe testes suficientes para todos que comprovem a doença, incluindo os que já morreram. O Brasil, que tem menos idosos que os países desenvolvidos, mas um número muito maior de pobres, apresenta um dado estarrecedor: é um dos que menos realiza testes para detectar a contaminação.
O senhor Jair Bolsonaro, ao contrário dos demais chefes de estado, está fazendo tudo para sabotar as medidas de proteção social em nome de uma suposta defesa da economia e dos empregos. Na verdade, não existe contradição entre essas questões pois, durante uma guerra, sobretudo contra um inimigo invisível, cabe ao estado proteger aos mais vulneráveis, os mais pobres, as micro e pequenas empresas para evitar que o desemprego chegue a níveis que inviabilize a economia e, ao mesmo tempo, evitar que o número de casos leve ao colapso os sistemas hospitalar e funerário, como já ocorre em outros países.
O presidente, que insiste em dizer que a pandemia não passa de uma “gripezinha” e desrespeita todas as recomendações da OMS, resistiu enquanto pôde em aceitar que era necessária a intervenção do estado visando amenizar os efeitos da crise. Depois de propor apenas 200 reais de ajuda emergencial aos mais pobres e o Congresso Nacional aprovar de 600 a 1.200 reais, o governo, que não havia se preparado para enfrentar a pandemia com a antecipada aquisição de equipamentos e insumos hospitalares, demorou e burocratizou o sistema de pagamento, impedindo que um grande número de pessoas tivesse acesso ao benefício.
Bolsonaro, não satisfeito com toda a sabotagem promovida contra o povo brasileiro, resolveu eleger como inimigos os governadores, o STF e o Congresso Nacional que, segundo ele, insistem no incentivo à quarentena sem pensar nos prejuízos econômicos, o que não corresponde à verdade. Não percebe o incauto que, com a crise, a economia só não entrará em um declínio sem volta se for protegida com os investimentos públicos pois, nesse momento, a prioridade é salvar vidas, os empregos e a economia, ao mesmo tempo.
Após atacar os governadores do Nordeste, do Rio de Janeiro e São Paulo, os dois últimos seus eleitores, e demitir o ministro da saúde no meio da crise, Bolsonaro resolveu abrir as baterias contra o presidente da Câmara dos Deputados. Não aceitou que o parlamento tivesse aprovado uma ajuda emergencial aos estados e municípios em função da redução drástica na arrecadação que esses entes federados vão sofrer pois, caso contrário, não conseguirão manter os sistemas de saúde, segurança, assistência social e o pagamento do salário dos servidores públicos no meio de uma crise tão profunda.
Na verdade, o presidente quer destruir o pacto federativo, submeter os governadores e prefeitos e colocá-los de joelhos frente aos seus ditames, pois sabe que os doentes e mortos que, para ele, não passam de estatística, irão se acumular nos municípios, sobretudo nas capitais dos estados. Aliás, Bolsonaro trabalha com dois cenários: se o isolamento social for bem-sucedido, dirá que a pandemia não era tão grave e colocará a culpa da crise econômica nos adversários; caso contrário, se ocorrer uma tragédia, com milhares de mortos, dirá que muitos iriam morrer mesmo e avisou aos seus oponentes do alto custo econômico do distanciamento social, que de nada teria adiantado.
Para implantar um estado policial e autoritário, Bolsonaro aposta no caos e na possibilidade da quebra da ordem democrática, ou do que resta dela, por isso seus atos são baseados em cálculo político, não tem nada de loucura como alguns, equivocadamente, insistem, embora suas ações sejam movidas pela demagogia e irresponsabilidade. Sabe que foi eleito com os votos de ricos e pobres, brancos e negros, homens e mulheres conservadores de todas as regiões do país e acredita que, no meio da crise, não há força e nem organização suficientes para tirá-lo do poder, assim como tem base social, demonstrada nas últimas pesquisas, que ainda lhe dá sustentação.
No entanto, o fracasso da política econômica ultraliberal de Bolsonaro, que manteve no desemprego cerca de 12 milhões de pessoas, além de ter promovido sucessivos cortes em investimentos sociais, agravou a situação do país com a crise da pandemia. Outrossim, os desgastes sofridos pelas atitudes irresponsáveis tendem a consumir parte substancial do capital político acumulado, isolando ainda mais o presidente e limitando enormemente sua capacidade de continuar conduzindo os destinos da nação.
Mas o presidente não cairá de podre. É importante sempre lembrar aos navegantes: o impedimento dos dois últimos presidentes não se deu pela falta de base parlamentar de sustentação, apenas, mas sobretudo porque a maior parte da elite política já havia construído uma saída, uma alternativa de poder. No caso da Dilma, por exemplo, segundo o ex-senador Jucá, foi “com o Supremo … com tudo”. Ainda tem aqueles que não querem o impeachment por receio do Mourão, e dos militares, e outros que preferem ver Bolsonaro “sangrar” até 2022. A fragilidade dessas proposições é que, no primeiro caso, não terão força para tirar os dois e nem irão gritar fica “Bozo” e, no segundo caso, é uma aposta bastante elevada, pela incerteza de não saber o que restará do Brasil até a próxima eleição presidencial.
Nesse sentido, urge a constituição de uma ampla frente de salvação nacional, “de Dino à Dória”, em defesa da vida, da democracia, do emprego, das micro e pequenas empresas e da economia nacional, envolvendo os governadores, os prefeitos, os demais poderes da República e a sociedade civil, em contraposição ao governo do “mensageiro da morte”. Basta de Bolsonaro.