Setembro Amarelo: “Saúde mental é uma questão de saúde pública, não individual”, diz psicóloga

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Falar sobre isso, né? Sobre essas possibilidades, essas sensações que vão permeando a vida da gente no decorrer dela toda

Pelas palavras da psicóloga clínica e da saúde Talita Fabiano de Carvalho, o olhar para saúde mental precisa ser ampliado enquanto diagnóstico e debate.

Na edição desta sexta-feira (16) do Bem Viver, a especialista defendeu a saúde mental como questão pública, além da quebra de um tabu que tende a silenciar o assunto na agenda da sociedade.
saúde mental como tabu

“Há uma dificuldade muito grande para falar com crianças e adolescentes, como se, caso eles souberem que isso existe [suicídio], eles vão poder fazer. É na verdade ao contrário. A gente precisa falar sobre isso, essas possibilidades e sensações que vão permeando toda a vida da gente. Essa sensação de as coisas não estão bem, que eu me vejo sem saída e que eu preciso procurar saídas e procurar ajuda. Então precisamos falar sim sobre esse assunto”, aponta a psicóloga, que faz parte do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo.

Na dimensão de um diagnóstico da saúde mental, Talita destacou um olhar social e político para o tema, ao invés de exclusividade de um foco individual.

“Tem uma uma cultura de dizer que saúde mental depende da pessoa. Você tem que procurar ajuda, você tem que se melhorar, você tem que se cuidar. Tem que tomar remédio, tem que fazer exercício. Mas, na verdade, no caso da saúde mental, a sociedade tem um papel muito importante. Ela impacta muito na saúde mental das pessoas, no bem viver das pessoas. A sociedade brasileira tem muitas desigualdades, preconceitos e discriminação e devido uma onda muito grande de autoritarismo, tem ideias moralizantes e higienistas. Essa sociedade vai produzindo sofrimento na pluralidade que é a pessoa humana e que é a nação brasileira. Então saúde mental depende da política e da sociedade”, analisa.

Para Talita, o enfrentamento aos desafios na questão da saúde mental dependem dessa consideração de um olhar amplo, plural e contextualizado.

“A gente precisa entender que saúde – e principalmente a saúde mental – é um problema de saúde pública. Enquanto não encararmos dessa forma – que  interessa a toda a sociedade enquanto responsabilidade – as coisas vão ficar difíceis como estão”, afirma.

Dessa forma, a especialista ressalta que até mesmo alguns termos estão sendo revistos dentro da área profissional.

“Sofrimento é humano. Mas essa a sensação de fracasso ou sensação de que não há caminho é de uma sociedade que vai criando caixinhas e vai colocando a gente em lugares que parece que a gente não pertence a eles. Muito do que acontece, não falamos de [uma pessoa] cometer suicídio. A gente fala ela foi acometida pelo suicídio”, ressalta.

A psicóloga defende que as pessoas procurem tratamento caso seja necessário. Ao mesmo tempo, aponta a importância de um acolhimento permanente entre a própria sociedade.

“Para quem está se sentindo numa situação sem caminho, sem alternativa, fala para quem está próximo, escuta. Não importa o que a pessoa diga, a gente precisa aprender a falar e e a escutar. Nada é desconsiderado. Por mais maluco que que possa aparecer ou que a pessoa esteja falando, ela está transmitindo uma mensagem. Então escute, e escutar a gente escuta de várias formas. No silêncio a gente também escuta. Então é importante saber que precisa procurar ajuda, pode ser qualquer pessoa, ajuda a falar com alguém. É conversar com alguém, procurar alguém que possa te ouvir naquilo que você está sentindo”, defende.

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