Gastos com cesta básica em Fortaleza representam 53,15% do salário-mínimo do trabalhador

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Alimentos seguem mais caros na capital cearense, apesar da queda do preço dos combustíveis

De acordo com a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, realizada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em outubro de 2023, o conjunto dos 12 produtos que compõem a cesta básica de Fortaleza registrou uma inflação de 1,32%. “A alta nos preços de seis, dos doze produtos da cesta básica fez com que um trabalhador, para adquirir os produtos respeitadas as quantidades definidas para a composição da cesta, tivesse que desembolsar R$ 648,93. Considerando o valor e tomando como base o salário-mínimo de R$ 1.320,00 (em uma jornada mensal de trabalho de 220 horas), pode-se dizer que o trabalhador teve que desprender 108 horas e 10 minutos de sua jornada mensal para essa finalidade. O gasto com alimentação de uma família padrão (2 adultos e 2 crianças) foi de R$ 1.946,79”, afirma um trecho da pesquisa.

A pesquisa ainda mostra que “comparando o custo da cesta com o salário mínimo líquido, ou seja, após o desconto referente à Previdência Social (7,5%), verifica-se que o trabalhador fortalezense remunerado pelo piso nacional comprometeu, em outubro de 2023, 53,15% do seu salário para comprar os alimentos básicos para uma pessoa adulta”.

A operadora de caixa, Antônia Soliene Martins é uma dessas trabalhadoras que precisam sobreviver com um salário-mínimo e sente na pele essa realidade. “Tem sempre dificuldade durante o mês, é uma feira que é o básico do básico, uma conta que não dá para pagar e fica para o próximo mês. No meu caso, um dos maiores desafios é justamente de não conseguir fazer uma feira que dê para o mês todo e ainda pagar todas as contas sem atrasar nenhuma”. Com Antônia moram mais três pessoas.

Ainda de acordo com o Dieese, enquanto Fortaleza registrou alta de preços, no mês de outubro, a cesta básica teve menor valor em outras doze capitais brasileiras. Para Fábio Sobral, economista e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), a capital está na contramão do restante do país, ou, pelo menos, das capitais pesquisadas. “Os fatores que afetam a queda dos preços dos alimentos estão essencialmente determinados pelos preços dos combustíveis e pelo transporte. A Petrobras teve uma redução ao longo deste ano, a mudança da política de preço da Petrobras fez principalmente o óleo diesel cair. Isso impacta no processo produtivo em todas as cadeias de produtos. É estranho que tenha aumentado em Fortaleza, a medida em que isso significa que provavelmente há uma concentração de mercado muito grande”.

Para o economista é preciso investir na produção local. “Falta no estado e ao redor de Fortaleza um cinturão de produção, um estímulo a produção de produtos agrícolas que atendam ao abastecimento da cidade, uma política agrária que permita a redução do valor dos alimentos. Falta um planejamento estratégico nesse quesito”.

Salário mínimo necessário

O DIEESE também divulga o salário-mínimo nominal e o salário-mínimo necessário para a manutenção de quatro pessoas. De acordo com a pesquisa, o necessário deveria ser de R$ 6.210,11 ou 4,70 vezes o salário-mínimo atual que é de R$ 1.320,00. “A distância entre o necessário e o que é pago de forma real mostra que as camadas trabalhadoras são mantidas em permanente escassez, permanente necessidade, permanente desespero, para que possam trabalhar por esses baixos salários e, assim, transferir enorme quantidade de riquezas para os setores mais poderosos” defende Sobral.

Para Antônia Soliene o salário necessário divulgado pela DIEESE explica bem porque todos os meses as suas contam não fecham. “Sim, esse salário de seis mil melhoraria e muito a nossa condição, pois daria para alimentação, lazer, para as contas do dia a dia, deixaria a gente mais aliviada e tranquila durante o mês”.

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